Necropsia em avicultura (Parte IV - lesões postmortem / etiologia).
Adaptado de: Guide for diagnosis of common poultry diseases
Benjamín Lucio-Martinez (Cornell University)
No último artigo, abordamos os achados antemortem. Neste artigo, vamos falar dos eventuais achados postmortem encontrados durante a necropsia. Vamos mostrar uma lista de diferentes alterações e as respectivas causas. Da mesma forma que no artigo anterior, este não tem a pretensão de esgotar o tema. Ele se restringirá a relatar os problemas mais freqüentemente encontrados em necropsias realizadas no CDPA - UFRGS (www.cdpa.ufrgs.br) ao longo dos últimos anos. Diante de cada achado observado, serão descritas as causas em ordem decrescente de ocorrência. Causas incomuns estão entre colchetes e as que afetam outras espécies que não a galinha, serão especificadas.
Relembrar é viver!: É importante realizar o exame do lote como um todo, obtendo-se uma história completa do caso, examinando-se tanto as aves mortas quanto as doentes e as aparentemente sadias. É imprescindível que o número de aves remetido ao laboratório se constitua numa amostra representativa do problema sanitário existente no lote.
1. Juntura Coxofemoral
1.1 Erosão da cabeça do fêmur ou cabeça do fêmur quebrada: necrose da cabeça do fêmur, osteomielite. (a cartilagem pode ser separada facilmente até em galinhas normais).
2. Pele da coxa, perna, peito e músculos
2.1 Aumento do folículo da pena: doença de Marek.
2.2 Depenamento muito fácil: botulismo, dermatite gangrenosa.
2.3 Pequenos nódulos brancos no tecido subcutâneo: Laminoscioptes cysticola (ácaro subcutâneo).
2.4 Transudato sanguinolento sob a pele: dermatite gangrenosa, diátese transudativa (deficiência de vitamina E / Se).
2.5 Petéquias nos músculos: sacrifício da ave, doença de Gumboro, anemia infecciosa das galinhas, hepatite por corpúsculo de inclusão, aflatoxicose, intoxicação por sulfa.
2.6 Necrose muscular: músculo branco (deficiência de vitamina E / Se), aplicação de vacinas emulsificadas com óleo ou antibióticos.
2.7 Músculos congestos: desidratação, septicemia, viremia (febre).
2.8 Músculos emaciados: doença de Marek, leucose linfóide, condições crônicas.
2.9 Tumores musculares: doença de Marek.
3. Sinus infraorbitário
3.1 Edema ou inflamação: laringo-traqueíte infecciosa, varíola aviária, Mycoplasma gallisepticum, coriza infecciosa tem um "mau cheiro".
3.2 Hemorragia: laringotraqueíte infecciosa.
3.3 Exsudato caseoso: laringotraqueíte infecciosa, varíola aviária, Mycoplasma gallisepticum em perus, coriza infecciosa.
4. Orofaringe
4.1 Bico amarelo em poedeiras: não está em produção ou está recentemente começando.
4.2 Bico pálido em poedeiras: em produção ou recentemente fora de produção.
4.3 Bico supercrescido ou calos no bico: técnicas de debicagem defeituosa.
4.4 Engrossamento da comissura do bico: micotoxinas, (vistas mais freqüentemente quando aves são alimentadas com ração farelada, ao invés de peletizada).
4.5 Rachaduras na comissura do bico: deficiência de biotina, ácido pantotênico.
4.6 Exsudato caseoso na fenda do palato: cólera aviária, varíola aviária diftérica, e outras doenças respiratórias.
4.6 Manchas brancas: deficiência de vitamina A.
4.7 Pseudomembranas na faringe e traquéia: forma úmida da varíola aviária, tricomoníase em pombos.
5. Traquéia
5.1 Traqueíte necrótica: laringotraqueíte infecciosa, forma úmida da varíola aviária.
5.2 Hemorragias na traquéia: laringotraqueíte infecciosa.
5.3 Nematódeos hematófagos na traquéia: Syngamus trachea em perus, faisões, codorna, e outros. [raro em galinhas].
5.4 Traqueíte catarral: bronquite infecciosa, cepas suaves da doença de Newcastle, vacinas com vírus vivo contra doença de Newcastle, bronquite infecciosa, [laringotraqueíte infecciosa].
6. Quilha
6.1 Bursite da quilha (edema, inflamação e/ou exsudato caseoso na bursa da quilha): manqueira, prostração devido a outras doenças, cama com pouca espessura de maravalha, cama úmida, piso duro.
6.2 Deformação da quilha: Raquitismo, osteoporose.
7 Costelas
7.1 Aumento das junturas costocondrais: raquitismo, osteomalácia.
7.2 Pontos brancos: leucose mielóide.
8. Subcutâneo do pescoço
8.1 Gotinhas de óleo na base do pescoço, abcessos, e/ou granulomas sob a pele do pescoço: aplicação recente de vacina emulsificada com óleo.
8.2 Edema subcutâneo, pode estar tingido com sangue: doença de Newcastle velogênica viscerotrópica, influenza aviária.
8.3 Atrofia do timo: doença de Marek, anemia infecciosa das galinhas, doença de Gumboro.
8.4 Aumento do nervo Vago: doença de Marek.
9. Perna
9.1 Aumento no nervo ciático: doença de Marek.
9.2 Epífise tibial: (proximal).
9.3 Placa de crescimento do osso engrossada: raquitismo.
9.4 Crescimento anormal de cartilagem: discondroplasia tibial.
10. Medula Óssea
10.1 Abscessos: osteomielite.
10.2 Pálida a amarela: anemia infecciosa das galinhas (em pintos de 2-3 semanas de idade), micotoxicose, intoxicação por sulfa.
11 Articulação do jarrete
11.1 Exsudatos: micoplasmose, estafilococose, estreptococose, salmonelose, artrite viral.
11.2 Ruptura de tendão gastrôcnemico: artrite viral.
11.3 Deslocamento de tendão: perose.
12. Almofada plantar
12.1 Abcesso: estafilococose, micoplasmose, estreptococose, "pé inchado".
12.2 Deposição de uratos: gota.
13. Cavidade abdominal
13.1 Ascite: síndrome ascítica (hipóxia e outros fatores), adenocarcinoma, [intoxicação por sal, envenenamento com fenol em galinhas jovens], [intoxicação crotalária], [síndrome tóxico gordurosa].
13.2 Hemorragias: ruptura do fígado devido à síndrome do fígado gorduroso ou outras causas (leucose linfóide, por exemplo); hemorragia capsular perirrenal e ruptura da aorta em perus.
13.3 Peritonite: viremia, septicemia.
13.4 Ovos (parcialmente ou completamente formados) na cavidade abdominal: disfunção do oviduto (septicemia, viremia).
14. Sacos Aéreos
14.1 Exsudatos, vascularização: doença crônica respiratória (DCR), outras infecções respiratórias, peritonite.
14.2 Nódulos brancos (granulomas): aspergilose em pintos jovens (perus, aves de caça, e outras aves são suscetíveis em idade mais avançada. Pode haver colônias fúngicas nos sacos aéreos).
15. Glândula Paratireóide
15.1 Aumento: raquitismo, osteomalácia.
16. Bursa de Fabricius
16.1 Atrofia: doença de Gumboro, aflatoxicose, doença de Marek, anemia infecciosa das galinhas.
16.2 Inflamação e edema: estágios iniciais da doença de Gumboro.
16.3 Crescimento tumoral: leucose linfóide, [doença de Marek].
16.4 Exsudato: doença de Gumboro, doença de Newcastle viscerotrópica velogênica.
16.5 Necrose epitelial: doença de Newcastle viscerotrópica velogênica.
17. Pulmão
17.1 Aumento, consolidação: DCR, cólera aviária, Mycoplasma meleagridis (sinusite infecciosa dos perus).
17.2 Nódulos brancos (granulomas): aspergilose, pulorose.
18. Costelas
18.1 Deformação: raquitismo.
18.2 Costelas frágeis: osteoporose.
18.3 Fratura da vértebra torácica: osteoporose (fadiga de gaiola em poedeiras).
18.4 Petéquias na caixa torácica: septicemia, viremia.
18.5 Aumento do plexo braquial: doença de Marek.
19. Testis
19.1 Tumores: doença de Marek, leucose linfóide.
19.2 Coloração escura: septicemia.
20. Ovário
20.1 Tumores: doença de Marek, leucose linfóide, adenocarcinoma (em poedeiras velhas).
20.2 Forma anormal do óvulo: septicemia, viremia, manipulação brusca, falta de água e/ou comida.
20.3 Óvulo descorado: septicemia.
21. Rim
21.1 Tumores: doença de Marek, leucose linfóide.
21.2 Nefrite: falta de água, doença de Gumboro, bronquite infecciosa.
21.3 Aumento do plexo ciático: doença de Marek, deficiência de riboflavina.
22. Coração
22.1 Coração Aumentado: síndrome ascítica, endocardite vegetativa; hemorragia perirrenal capsular em perus, coração arredondado de perus.
22.2 Pericardite: DCR.
22.3 Nódulos brancos: Salmonella pullorum e aspergilose nos jovens de várias espécies, doença de Marek em galinhas mais velhas.
22.4 Necrose miocárdica: [listeriose].
22.5 Endocardite: erisipela, estreptococose.
22.6 Petéquias na gordura coronária: septicemia (pasteurelose), viremia.
23. Fígado
23.1 Aumentado, pálido e com nódulos: doença de Marek, leucose linfóide.
23.2 Aumentado, necrose focal, coloração esverdeada: salmonelose (tifo).
23.3 Aumento, coloração esverdeada: Mycoplasma synoviae.
23.4 Necrose focal do fígado: septicemia.
23.5 Aparência acinzentada do fígado: infecções clostridiais, e outras septicemias.
23.6 Grandes áreas necróticas com hemorragia: histomoníase em perus e aves de caça.
23.7 Camada de fibrina sobre o fígado: DCR, colibacilose, outras septicemias.
23.8 Petéquias no fígado: hepatite por corpúsculo de inclusão, síndrome do fígado gorduroso.
23.9 Amarelo, fígado gorduroso (normal em pintos recém eclodidos): síndrome do fígado gorduroso (podem ser petéquias ou grandes hemorragias), aflatoxicose.
24. Baço
24.1 Aumento: doença de Marek, leucose linfóide, doença de Gumboro, viremia, salmonelose, cólera aviária, outras septicemias; doença do fígado marmorizado de faisões; enterite hemorrágica de perus.
24.2 Infarto: envenenamento com sulfa.
25. Intestino proximal
25.1 Entumescimento: decomposição (tempo longo entre morte e necropsia).
25.2 Entumescimento com constrições verticais, "semelhante a salsicha": Eimeria necatrix.
Serosa intestinal
25.3 Manchas brancas minúsculas e petéquias minúsculas: Eimeria necatrix.
25.4 Nódulos: doença de Marek, leucose linfóide, adenocarcinoma (em poedeiras jovens).
25.5 Granulomas: [coligranuloma, tuberculose].
26. Pâncreas
26.1 Manchas brancas: pancreatite infecciosa (associada com síndrome de má absorção), [crista azul de galinhas].
27. Proventrículo
27.1 Parede aumentada: doença de Marek.
27.2 Hemorragia: doença de Newcastle velogênica viscerotrópica, influenza aviária, septicemia.
27.3 Manchas parecidas com hematomas: nematódeo Tetrameres americana.
27.4 Hemorragia (acompanhada com aumento de parede): doença de Marek.
28. Moela
28.1 Erosão: aflatoxina, gizerotoxina, fome, estresse, nematódeos em gansos.
28.2 Coloração esverdeada da parede: regurgitação de bile.
28.3 Perfuração da moela: aflatoxina, gizerotoxina, estresse severo, corpos estranhos, etc.
29. Intestino
29.1 Parasitas: Ascaridia galli (mais comum dos nematódeos em galinhas), tênias.
29.2 Enterite: erisipelas, septicemia.
29.3 Enterite severa em perus: enterite coronaviral, enterite hemorrágica.
29.4 Linhas brancas através da mucosa duodenal: Eimeria acervulina.
29.5 Manchas brancas sobre a mucosa duodenal: Eimeria mivati.
29.6 Ulceras semelhantes a botões sobre a mucosa intestinal e as tonsilas cecais: doença de Newcastle velogênica viscerotrópica, enterite viral de patos (peste dos patos).
29.7 Úlceras hemorrágicas superficiais: enterite ulcerativa (doença da codorna), (ocasionalmente vista em galinhas imunodeprimidas).
29.8 Enterite severa, e hemorragia do intestino médio: Eimeria necatrix (somente esquizontes são encontrados em raspados);
29.9 Exsudato cremoso (cor laranja ou tingido com sangue) no intestino inferior: Eimeria maxima.
29.10 Necrose coagulativa do reto e ceco inferior: Eimeria brunetti.
30. Endoturbinado
30.1 Exsudato: DCR, bronquite infecciosa, coriza infecciosa, doença de Newcastle, infecções por Mycoplasma gallisepticum e M. synoviae, bronquite infecciosa das codornas (codorna), clamidiose (pombos, perus).
31. Esôfago
31.1 Placas brancas: deficiência de vitamina A.
31.2 Pseudomembranas: varíola aviária, tricomoníase em pombos.
31.3 Engrossamento da parede: capilaríase em pombos e aves de caça, candidíase.
32. Papo
Igual no esôfago, e:
32.1 Sangue fresco: má cauterização na debicagem.
32.2 Líquido escuro (sangue digerido): perfuração da moela.
32.3 Distendido: papo pendular em doença de Marek, impactação do papo.
33. Cérebro
33.1 Petéquias, malácia, e/ou edema do cerebelo: encefalomalácia (deficiência de vitamina E / Se).
Neste quarto e último artigo sobre necropsia, esperamos ter cumprido o objetivo proposto no primeiro artigo, que era o de ter "olhos novos" para romper e explorar o que há por trás das "cortinas de fumaça".
No próximo número da revista, pretendemos discutir dois assuntos interessantes:
- O porquê de proceder exames laboratoriais em avicultura.
- Como enviar material ao laboratório para exames laboratoriais em avicultura.
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