Necropsia em avicultura (Parte III - alterações antemortem / etiologia).

Adaptado de: Guide for diagnosis of common poultry diseases
Benjamín Lucio-Martinez (Cornell University)

No último artigo, discutimos a técnica de necropsia. Neste artigo, vamos falar dos eventuais achados antemortem encontrados durante o referido procedimento. Vamos abordar uma lista de diferentes alterações e as respectivas causas. Este artigo não tem a pretensão de esgotar o tema. Ele se restringirá a relatar os problemas mais freqüentemente encontrados em necropsias realizadas no CDPA - UFRGS (www.cdpa.ufrgs.br) ao longo dos últimos anos. Diante de cada achado observado, serão descritas as causas em ordem decrescente de ocorrência. Causas incomuns estão entre colchetes e as que afetam outras espécies que não a galinha, serão especificadas. É importante realizar o exame do lote como um todo, obtendo-se uma história completa do caso, examinando-se tanto as aves mortas quanto as doentes e as aparentemente sadias. É imprescindível que o número de aves remetido ao laboratório se constitua numa amostra representativa do problema sanitário existente no lote.

Exame antemortem
Caixa de transporte das aves: não descarte a caixa sem procurar por parasitas nas fendas e frestas, assim como pela evidência de diarréia.
Ácaros nas fendas ou frestas da caixa: Ornithonyssus sylviarum: é um parasita permanente da galinha. Se presente em grande número, pode ser encontrado na caixa, bem como sobre o corpo da galinha. Dermanyssus gallinarum (ácaro vermelho): é encontrado sobre a ave somente durante a noite. Pode estar presente na caixa durante o dia, se a ave foi pega à noite.
Oocistos de Eimeria sp. ou ovos de parasitas: coccídios, e parasitas intestinais são muito comuns em galinhas, e podem ser encontrados na ausência de doença clínica.
Diarréia sanguinolenta: pode indicar infecção por Eimeria tenella, [E. necatrix]; enterite hemorrágica em perus.
Diarréia esverdeada: doença de Marek, tifo, septicemia, viremia (doença de Newcastle, p.ex.), febre em geral.
Diarréia esbranquiçada: Lesões renais, pulorose.
1. Pescoço
1.1 Paralisia (pescoço flácido): botulismo, pseudobotulismo (doença de Marek).
1.2 Torcicolo, epistótono, opistótono: infecção do ouvido médio, doença de Newcastle.
1.3 Espondilose: congênito, lesão vertebral do pescoço.
2. Asa e Movimentos de Asa
2.1 Falta de coordenação: doença de Marek.
2.2 Paralisia: doença de Marek, fadiga de gaiola em poedeiras, doença de Newcastle, encefalomielite aviária em pintos muito jovens, encefalomalácia.
3. Cabeça
3.1 Tremor em galinhas entre 1-4 semanas (e perus): encefalomielite aviária.
3.2 Tiques: doença de Newcastle.
3.3 Torcicolo, opistótono, epistótono: doença de Newcastle, infecções do ouvido médio (cólera aviária, salmonelose, pseudomonose em pombos), encefalomalácia (condições septicêmicas em galinhas jovens).
3.4 Cabeça inchada: cólera aviária, septicemia, síndrome da cabeça inchada (pneumovirose), influenza aviária, doença de Newcastle velogênica viscerotrópica.
4. Crista e Barbelas
4.1 Falta de desenvolvimento: ave jovem.
4.2 Murcha: doenças crônicas.
4.3 Cianose: febre, septicemia, viremia, cólera aviária, cepas nefrotrópicas de bronquite infecciosa (pode ter causado o que foi diagnosticado como crista azul de galinhas no passado), leucose; "cabeça negra" (histomonose), crista azul ou erisipelose dos perus.
4.4 Necrose aguda em perus: erisipela, cólera aviária.
4.5 Dermatite escamosa: favo (Dermatophyton gallinae).
4.6 Crostas: canibalismo, bouba aviária, favo.
4.7 Pústulas, crostas: bouba aviária.
4.8 Vesículas, nódulos: bouba aviária, [fotossensibilização], [dermatite vesicular].
4.9 Necrose: influenza aviária, septicemia, [ulceração por frio (em galinhas criadas extensivamente)].
4.10 Edema, inflamação, exsudato caseoso nas barbelas: cólera aviária.
5. Olhos
5.1 Crostas, pústulas em torno do olho: bouba aviária.
5.2 Adesão das pálpebras: bouba aviária, laringotraqueíte infecciosa, coriza infecciosa, [deficiência de vitamina A].
5.3 Pulgas sobre a pele, ao redor do olho: Echidnophaga gallinaceae.
5.4 Descoloração, ou deformação da íris (assimetria ou cegueira): doença de Marek.
5.5 Hemorragia da pálpebra: laringotraqueíte infecciosa.
5.6 Exsudato caseoso entre a pálpebra e a córnea: bouba aviária, aspergilose, [Oxyspirura mansoni (nematódeo da terceira pálpebra), deficiência de vitamina A].
5.7 Opacidade da córnea: doença de Marek, doença de Newcastle velogênica.
5.8 Panoftalmite: Salmonella sp., Pseudomonas sp., Aspergillus sp., e outras septicemias, particularmente nas primeiras semanas de vida.
5.9 Cegueira: doenças acima, glaucoma [predisposição genética].
6. Narinas
6.1 Descarga nasal: bronquite infecciosa, doença de Newcastle, micoplasmose, coriza infecciosa (mau cheiro).
7. Penas
7.1 Crescimento irregular das penas: síndrome de má absorção, [deficiências de aminoácidos].
7.2 Perda de penas: muda natural ou induzida, [ácaros (Knemidocoptes gallinae)].
7.3 Penas quebradas: alojamento em gaiola, deficiência de aminoácidos.
7.4 Penas muito facilmente destacáveis: botulismo, dermatite gangrenosa.
7.5 "Lêndeas" na base das penas, presença de piolhos: infestação por piolhos.
7.6 Pulgas
7.7 Moscas: Pseudolynchia canariensis, em pombos.
8. Cloaca
8.1 Penas da cloaca sujas: (veja diarréia no início deste artigo).
8.2 Penas da cloaca "encarvoadas", presença de ácaro: Ornithonyssus sylviarum.
8.3 Sangue nas penas da cauda e/ou asa: canibalismo.
8.4 Sangue sobre a cloaca: prolapso de cloaca, canibalismo.
8.5 Prolapso de pênis em patos e outras aves aquáticas: enterite viral de patos (peste dos patos).
9. Pele
9.1 Hemorragias: anemia infecciosa das galinhas, hepatite por corpúsculo de inclusão.
9.2 Inflamação do folículo da pena: doença de Marek.
9.3 Pústulas, crostas: bouba aviária.
9.4 Crostas: favo (Dermatophyton gallinae).
9.5 Gangrena úmida: dermatite gangrenosa (Clostridium septicum e infecção por Staphylococcus sp. em galinhas imunodeprimidas).
9.6 Gangrena seca: erisipela.
9.7 Vesículas: bouba aviária, dermatite vesicular (infecção por Staphylococcus sp.).
9.8 Enfisema subcutâneo: ruptura de saco aéreo.
9.9 Pele engrossada (aparência de pasta): xantomatose.
10. Jarretes, pés
Examine os jarretes da ave, procurando edema, que possa ser evidência de artrite, e também examine os pés, verificando a presença ou não de anomalias, tais como: endurecimento de excreta, e crescimento anormal das unhas.
10.1 Edema na articulação do jarrete: com exsudato amarelo claro - infecção por Mycoplasma gallisepticum; cor de rosa - infecção por Mycoplasma synoviae; turvado ou caseoso - estafilococose, estreptococose, salmonelose, etc.
10.2 Encurtamento do tendão (gastrocnêmio): perose.
10.3 Engrossamento dos ossos: osteopetrose.
10.4 Aumento da epífise, curvatura dos ossos: raquitismo.
10.5 Ruptura do tendão gastrocnêmio: artrite viral.
10.6 Eritema dos jarretes: septicemia - dermatite gangrenosa; estafilococose; viremia - doença de Newcastle, influenza aviária.
10.7 Hiperqueratose dos jarretes e metatarso: ácaro escamoso das pernas (Knemidocoptes mutans).
10.8 Despigmentação em poedeiras: fêmeas que vem produzido ovos há várias semanas.
10.9 Despigmentação em frangos de corte: síndrome de má absorção ou deficiência de pigmentos na ração.
10.10 Rachaduras sobre a pele interdigital: deficiência de biotina, ácido pantotênico.
10.11 Almofada plantar edemaciada: abscesso da almofada plantar, gota.
10.12 Necrose do dedo: trauma mecânico, ulceração por frio.
10.13 Excrementos encrostados: cama úmida.
10.14 Unhas dos dedos supercrescidas: alojamento em gaiola.
11. Sangue
11.1 Gotículas de gordura no sangue: parasitas sangüíneos: Haemoproteus columbiae, espiroquetas em pombos.
11.2 Hematócrito baixo: anemia infecciosa das galinhas, leucoses, hepatite por corpúsculo de inclusão.
No próximo artigo, discutiremos as alterações postmortem.

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