Necropsia em Avicultura (Parte I - a autoavaliação do procedimento).

"A verdadeira viagem da descoberta, consiste não em ver novas paisagens; mas sim, em ter olhos novos".

Iniciando com esta frase, podemos resumir o fato de muitos congressos, livros, etc. não darem a devida importância a este tema. Enumeremos as razões para isso:
- Muitos técnicos afirmam que até um avicultor com razoável prática pode diagnosticar perfeitamente doenças avícolas. Não queremos com a frase anterior, menosprezar o leigo à ciência veterinária, mas a verdade é que a falta do conhecimento etiológico, patológico e epidemiológico das doenças aviárias, faz com que o avicultor ou o "prático" não consigam inter-relacionar evidências científicas, as quais requerem um rigor (critério) científico, somente aprendido mediante ensino metodólogico e continuado em universidades.
- A escassez de veterinários no campo agregada ao pouco tempo que os mesmos podem estar efetivamente dentro das granjas, faz com que estes sejam obrigados a confiar em "necropsias" realizadas por outros.
- Muitas vezes, não nos damos conta que o único local onde as doenças aviárias ocorrem uma de cada vez, sem sobreposição nem sinergismo, é durante as aulas dos graduandos em Medicina Veterinária (na UFRGS, 3as e 5as, das 7.30a.m às 11.30a.m.). Este é o principal erro que um veterinário desavisado pode cometer, ou seja, realizar a necropsia "com olhos de quem procura UMA doença em específico".
- Outras vezes, bem mais comum de acontecer, é o diagnóstico correto de uma doença, ou mais de uma, pelo veterinário, o posterior tratamento medicamentoso do lote, a resolução do problema visível e a falsa sensação de tranquilidade. Esquece-se, com freqüência, de que as manifestações clínicas de muitas doenças são tão somente "cortinas de fumaça" (por favor, não esqueçam esse termo!), que encobrem doenças muito mais maléficas às aves e prejudiciais aos bolsos, tanto do avicultor como da indústria avícola. O veterinário, algumas vezes, se contenta em medicar um lote com Escherichia coli, por exemplo, e não procura investigar o que há por trás desta cortina de fumaça (E. coli). As doenças que levaram à visualização clínica de certas enfermidades, geralmente não se manifestam claramente e minam lenta e constantemente os lucros da avicultura.
- Ainda existe outro problema, que é a tentativa de proceder diagnósticos clínicos sem o envio de material ao laboratório para confirmação. Em várias ocasiões, não sabemos usar adequadamente as ferramentas laboratoriais que possuímos e quando as usamos, não sabemos interpretar. Em conseqüência, não conseguimos argumentar com o temido departamento de custos da Empresa e o final todos sabem: a quantidade e a qualidade de exames laboratoriais são restringidos, pois acha-se que tais exames não tem finalidade. O CDPA possui linha de pesquisa em novos métodos para o gerenciamento da avicultura, que fornecem a devida contribuição de determinadas monitorias laboratoriais para a produtividade (além da produção) da empresa avícola.
Ao adentrar no assunto necropsia, queríamos em primeiro lugar fomentar esta discussão e autoavaliar a forma com que temos abordado este tema até hoje. Este é o primeiro de uma série de artigos, em que trataremos deste magnífico e não bem explorado tema, que é a técnica e a interpretação dos achados de necropsia. Nos próximos artigos, abordaremos outros itens, como contenção das aves, exame ante mortem, eutanásia, exame post mortem (órgãos, lesões e doenças) e por último, um artigo abordando o correto acondicionamento e envio de materiais ao laboratório.
Esperamos ter despertado sua curiosidade e a partir do próximo artigo, temos a pretensão de convidá-lo a ter "olhos novos" para romper e explorar o que há por trás das "cortinas de fumaça".

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