A imprevidência do governo

Nas últimas décadas, foi dada a notícia da falência do Estado nacional. Em contraposição a essa visão simplista, a esquerda capitaneada pelo PT foi a voz em defesa do serviço, não como um empecilho, mas como um dos pilares da construção de um país melhor. Assim, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva ocorreu com vigorosa contribuição dos servidores públicos. Lula chegou lá, não pelo inegável carisma pessoal; ele foi uma resposta àqueles que sempre vilipendiaram os servidores públicos. É por esse motivo que o funcionalismo assiste perplexo à ofensiva governamental rumo ao desmonte da previdência pública, novamente eleita com vilã da história.
Também gera desconforto a pressa e a montagem de "comissão" para tratar da previdência, como se o Congresso, novinho em folha, recém-eleito, não representasse a sociedade. Para ficar num exemplo caseiro, em Porto Alegre, a prefeitura debateu o assunto por três anos junto ao Legislativo e à categoria dos municipários, até formatar um modelo de previdência pública sustentável, que garante a integralidade das aposentadorias.
Se é hora de corrigir distorções, vamos cobrar a cota de todos, a começar pelo empregador estatal, que, diferentemente do privado, não contribui para o financiamento do sistema. A farsa da previdência deficitária não resiste aos mais elementares questionamentos. As contas que andam por aí, referentes ao ano 2001, "esquecem" de incluir como receita previdenciária mais de R$50 bilhões (isso mesmo, R$50 bilhões), arrecadados a título de Cofins e Contribuição Social Sobre o Lucro, criadas com a finalidade de financiar a seguridade.
Ao invés de investir na qualificação da receita, cuidar da economia informal, combater a sonegação e o cabedal de isenções existentes, cogita-se da implantação de um modelo único, cujo fracasso já foi atestado com sobras pelos nossos vizinhos chilenos. Lá, a perversa idéia de retirar proventos do futuro teve como conseqüência a queda da qualidade de vida dos povos, obrigando o Estado fazer-se mais presente, com verbas sociais onde até então sua presença não era requisitada.
O que não deixa de ser irônico é que a iniciativa seja liderada por quem mais defende (ou defendia) o Estado forte e o serviço público valorizado. O governo Lula ameaça golpear o funcionalismo com mais força do que o próprio FHC, que até ontem era qualificado como imperialista e defensor de medidas encomendadas pelo FMI. Confiamos em que o governo queira ouvir, evitando a instalação de um perigoso clima de animosidade junto aos servidores públicos, que acreditam que, com o fim da era FH, nosso país voltasse a construir seu próprio caminho, abrindo mão das tão criticadas soluções enlatadas made in USA.

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