Avicultura Gaúcha

Até a década de 60, a avicultura no Estado desenvolveu-se de forma pouco tecnificada, como em todo o Brasil. Até aquela ocasião, grande parte carne de "galinha" e de ovos produzidos tinham como principais consumidores os próprios produtores e, somente os excedentes da produção eram comercializados. Naquela época é que surgiram os primeiros empreendedores. Primeiro na área de postura comercial e depois na de frangos de corte. Com isso, o Governo Federal percebeu o potencial deste negócio e passou a buscar oportunidades de treinamento aos nossos avicultores em países mais desenvolvidos. Recursos também foram disponibilizados e os avicultores mais arrojados deram início à era da introdução da avicultura industrial. Nosso Estado teve sucesso neste início pois dispúnhamos de avicultores empreendedores, uma etnia identificada com este tipo de produção e o Estado produzia grãos em quantidade suficiente para atender a demanda inicial. A década de 70 foi a da exportação. Estes mesmos avicultores, agora já industriais do setor, começaram a se adequar às exigências internacionais com o Governo financiando projetos arrojados de empresários avícolas. A infra-estrutura construída nos colocou em condições de igualdade com os fornecedores-concorrentes internacionais. Nosso produto passou a ser disputado em vários países. A partir daí, entramos na fase da tecnologia. Agora a evolução do segmento requer conhecimento sólido dos processos. A integração de toda a cadeia produtiva não dispensa a união de esforços e a consciência do trabalho em equipe. Os conhecimentos em genética, nutrição, sanidade e manejo e o treinamento de todos estes componentes são indispensáveis para viabilizar esta tarefa, que impõe eficiência para permanecer lucrativa. A sociedade nacional e internacional cada vez mais imporá pré-requisitos básicos para o que será produzido e o nosso parque industrial deverá estar adaptado às novas exigências. Para nós gaúchos, estas imposições não são limitantes pois, desde o início do desenvolvimento, o negócio carne de frango foi tratado com muito profissionalismo. Por termos tido competência e determinação é que conseguimos nos posicionar no mercado da avicultura como um dos principais estados produtores. Nosso parque industrial é moderno. Nossos produtores são qualificados e continuam identificados com a atividade, que tem viabilizado suas pequenas propriedades agrícolas. Também temos um contingente significativo de profissionais treinados em escolas agrícolas e universidades de nosso Estado e que tem interpretado as mudanças tecnológicas indispensáveis e as adaptado para manter nossa produção das mais viáveis do Brasil. Mas este não é o fim do processo. Qual será a próxima fase que nos desafiará? Independente de qual seja, só a alcançaremos com muito trabalho e alto nível de conhecimento.
Dr. Antônio Mário Penz Júnior
Prof. Titular - Depto de Zootecnia - Faculdade de Agronomia - UFRGS

Alguns dados (fornecidos pela Associação Gaúcha de Avicultura/ASGAV) demonstram a importância da avicultura para o Estado do Rio Grande do Sul. No Estado existem 16 frigoríficos com Inspeção Federal e 12 com Inspeção Estadual. Toda a estrutura que envolve a avicultura é responsável por 40 mil empregos diretos e 780 mil indiretos; 10 mil produtores integrados, com um plantel permanente de 60 milhões de pintos de corte e 25 milhões de avós/matrizes/poedeiras comerciais. No ano de 2000, a avicultura gaúcha alojou 544 milhões de pintos e abateu 516 milhões de aves, produzindo um total de 876,7 mil toneladas de carne (666 mil toneladas para o mercado brasileiro). O faturamento no ano de 2000 foi de R$968.500.000,00, sendo que o valor relacionado à exportação foi de US$190.400.000,00 (em torno de 210.399 toneladas exportadas). No ano de 2000, o Rio Grande do Sul participou com 15,33% da comercialização brasileira. Em comparação com outros estados, ficou em 2o lugar no quesito número de aves abatidas e em 2o lugar em toneladas produzidas. Entre as dez maiores empresas avícolas nacionais, estão no nosso estado a Avipal S/A Avícola e Agropecuária, Companhia Minuano de Alimentos, Cooperativa R.A. Languirú, Doux Frangosul S/A, Perdigão Agroindustrial S/A, Penasul Alimentos Ltda. Estes dados servem para ilustrar a importância do mercado avícola, praticamente estabelecido em todas áreas do estado. A postura comercial é representada por 148 empresas e 180 mini e pequenos produtores, sendo que 4 empresas possuem incubatórios independentes. No ano, a produção de ovos comerciais foi de 3 milhões e 300 mil caixas com 30 dúzias, com um faturamento de R$60.000.000,00. O consumo de insumos básicos foi de 2 milhões toneladas de milho e 700 mil toneladas de farelo de soja.
A avicultura, pela sua característica associativista, integra os pequenos produtores ao processo produtivo, assegurando-lhes tecnologia de ponta, capital de giro e garantia de comercialização do produto, tornando viável o minifúndio e fazendo com que o produtor rural se fixe no campo e não engrosse os cinturões de miséria das grandes cidades.
Uma atividade com esta magnitude ainda apresenta algumas distorções, até certo ponto paradoxais. A mesma avicultura que usa equipamentos de última geração e serviços atualizados, responsáveis pela competitividade internacional do produto brasileiro, na maioria dos casos é levada a tomar decisões que envolvem todos os aspectos de produção, apoiada em critérios subjetivos. Como critério subjetivo, deve ser entendida a análise meramente gráfica dos dados e uma experiência empírica, que se traduz por sensação "epidérmica" de erro e acerto. Uma atividade tão importante econômica e socialmente, necessita de critérios objetivos, fundamentados cientificamente, para dar sustentação às decisões que objetivarão a melhoria da produtividade dos plantéis e da qualidade sanitária do produto oferecido aos mercados externo e interno.
Segundo Rivas (1994), as bases e os fundamentos da modelagem matemática são, infelizmente, pouco conhecidos e pouco acessíveis aos profissionais não especializados, devido à escassez de livros texto e de artigos de divulgação. Benigni & Giuliani (1994) também comentaram o fato de que a modelagem matemática ainda permanece fora do domínio da maioria dos profissionais da área biológica e que não é fácil identificar todas as razões para esta situação mas, certamente, há razões históricas para a forma com que os diferentes campos da ciência foram divididos, sendo que esta divisão perpetuou-se até hoje nas instituições educacionais e científicas. Os autores ainda afirmaram, que junto a este problema, a biologia apresenta um grande número de peculiaridades que tornam difícil o uso imediato das mesmas ferramentas usadas em ciências exatas. A modelagem, através de leis naturais, típicas da física, é baseada em um número de exigências que raramente são satisfeitas em biologia. Os mesmos autores citam as particularmente importantes: 1) Prévia identificação dos objetos que tenham um papel no fenômeno sob estudo e 2) Identificação das condições limitantes e do domínio da aplicabilidade do modelo.
Concordamos em parte com tais afirmações, visto que há um enorme aparato de conhecimento, textos e ferramentas disponíveis não só ao meio acadêmico mas para qualquer pessoa que tiver acesso à internet e interesse em estudar as bases e fundamentos da modelagem matemática. A modelagem matemática em biologia é difícil, mas não impossível.
Eis que há necessidade de uma mudança no gerenciamento avícola.

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